Sinopse

Era uma amizade. Uma promessa. Eles ficariam juntos pra sempre, não importava o tempo que passasse. Ele foi embora, ela esperou. Mas os tempos mudam, as pessoas mudam. E as promessas? Ele resolveu voltar. Ela não é mais a mesma. E os dois, será que esse ainda existe?

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Estrela do Time


         Eu acordei de um jeito estranho para ir a escola. Quando passei pela casa de Josh até olhei, mas não me preocupei em chamá-lo, não sabia por que. Fui seguindo tranquilamente e até cantarolava algumas músicas. O que estava acontecendo comigo? Porém, quando cheguei ao prédio, minha cantoria parou. Todos olhavam pra mim e comentavam alguma coisa. Eu estava acostumada com olhares, mas aqueles eram diferentes. Não era por causa da minha maquiagem, ou por causa de como eu me vestia. Tinha algo que eu não sabia.
         Continuei andando até o fim do corredor, onde normalmente encontrava a minha turma e não foi diferente. Vi Lola, com seu isqueiro, ascendendo e apagando, só que agora olhava diretamente pra mim, um tanto desconfiada, parecia até um pouco irritada, mas ainda assim tinha um sorriso assustador no rosto. Continuei andando, como quem não tinha notado nada de diferente e fui até Lola, cumprimentando-a com meu sorriso natural de desdém.
         - Olá, Lola! – Eu disse, apertando a alça da bolsa no meu ombro e encostando-me na parede ao lado. Ela continuava apenas me olhando e sorrindo, como se estivesse me examinando com os olhos, esperando que eu declarasse alguma coisa embaraçosa. – O que foi? Tá me olhando estranho... – Resolvi perguntar, já ficando nervosa com a forma como todos estavam me olhando sempre que passavam pela parede onde eu estava com as costas e um dos pés apoiados.
         - Foi um show mesmo, hein? – Lola disse com um ar de riso, finalmente guardando o isqueiro no bolso de trás da calça e apoiando os dois polegares nos mesmos, fazendo uma pose.
         - Show? Que show? – Eu não entendia. Não mesmo. Ela falava como se eu soubesse muito bem do assunto que todos comentavam e que provavelmente tinha a ver comigo. Comecei a me sentir sufocada por conta da irritação.
         - Na festa do Mcguire! – Ela ainda sorria e me respondeu em tom óbvio. Eu bati as mãos nas coxas, inclinando o corpo pra frente e tirando-o da parede, irritada, mas por dentro eu tive até um pouco de medo. Não lembrava de nada do que tinha acontecido e esse tal show que todos estavam comentando só poderia ter sido dado por uma pessoa, pra que em plena segunda-feira as pessoas não parassem de olhar pra mim. Meu coração palpitava.
         - Pode ser mais direta? Eu não faço ideia do que você tá falando! – Eu disse, sincera, esperando que as coisas não fossem tão graves.
         - Vai dizer que esqueceu como foi relembrar a infância? – Ela gargalhou por um momento e eu comecei a arfar, respirando forte. Não podia, isso tinha a ver com Joshua. – Ah, mas talvez na infância não fizessem coisas... Daquele tipo! – Lola completou e riu mais alto. Eu não conseguia responder, apenas olhando para o nada e tentando vasculhar a parte da minha memória que tinha sido apagada, o não registrado, pra conseguir pedir desculpa a mim mesma por quaisquer momentos vergonhosos, mas não conseguia. A única coisa que vinha na minha cabeça era a ideia de que com certeza o beijo de ontem não tinha sido o primeiro entre os crescidos Ann e Josh.
         Corri pela escola em busca do bebedouro mais próximo, eu precisava de água. Precisava respirar, porque eu com certeza estava ficando roxa. O que eu poderia ter feito de tão terrível com Josh pra que todos tivessem visto e precisassem comentar depois. Pior do que ter feito, era a sensação de não saber de nada do que tinha acontecido, de não lembrar. Eu me sentia uma inválida! Quando achei, bebi água até não aguentar mais, até sentir minha barriga não aguentar mais. Quando me levantei, Lola estava atrás de mim.
         - Tem certeza que não se lembra de nada? – Ela ria – Como assim? Você bebeu tanto assim naquela noite? – Ela me encarava, curiosa. Também não gostaria que ela soubesse que eu havia usado o maldito comprimido, porque todos sabiam que eu era a mais careta dali nessas questões, até porque eu só estava mantendo a pose e não tentando ser uma deles de verdade.
         - Eu não me lembro de nada do que aconteceu naquela festa! – Eu falei, pausadamente, encarando-a. Ela jogou a cabeça pra trás, ainda com ar de riso, mas sua gargalhada não teve som.
         - Na sexta à noite você aloprou de vez! – Ela começou a contar, rindo. – Você dançava como uma louca na pista de dança. Mexeu com todos da escola, gritava e ria como se não estivesse em si. Parecia estar se divertindo e o melhor de tudo... Você não o fez sozinha. – Foi quando um sorriso maldoso brotou nos lábios dela – Josh também estava assim. Muito louco. Eu não sabia que ele era tão interessante desse jeito... – Encostei-me na parede próxima ao bebedouro, colocando a mão na testa. Sentia que queria começar a suar. – E teve uma hora que vocês começaram a dançar bem agarradinhos e quando eu olhei pro lado vocês já estavam subindo as escadas se agarrando como animais.
         Não aguentei, minhas pernas fraquejaram e eu fui descendo, encostada na parede, até achar o chão. Só conseguia ouvir a risada de Lola ao longe.
         - Depois de um tempo... – Ela se abaixou ao meu lado, continuando a falar – vocês desceram, com as roupas bagunçadas, seu cabelo todo para o alto e continuaram a dançar como se nada tivesse acontecido. – Ela não me encarava, olhava para os pés das pessoas que passavam a nossa frente, com um sorriso esboçado no rosto e movia a mãos ligeiramente enquanto falava. – Daí depois vocês foram mais normais... Você subiu na mesa, pensei até que fosse tirar a roupa. Dançou muito e bebeu mais, depois foi com o Josh pra casa – Ela agora tinha sentado e começar a rir demais do meu lado. Eu não sabia onde enfiar a cara, e precisava falar com Josh sobre o acontecido e me subiu uma vontade imensa de correr pela escola atrás dele.
         Ia me levantando sem nem avisar a Lola, mas ela interrompeu meus pensamentos, levantando junto comigo e puxando meu braço enquanto perguntava:
         - Você não estava cheia de raiva dele, agora estão amigos como antes? – Ela tinha os olhos apertados, me examinando novamente. Buscando qualquer demonstração de medo que eu pudesse dar. Eu me controlava, e o que dizer agora? Eu saberia que se dissesse que estava querendo voltar a ter amizades com o Josh seria o fim da minha amizade com Lola. E será que eu queria mesmo continuar com essa relação que tinha com Lola e os revoltados da escola? Por outro lado eu tinha muito que averiguar sobre Josh. Eu nem sabia se ele estava me falando a verdade. Não tinha a certeza se ele tinha virado um riquinho chato de Los Angeles, daqueles que só vão atrás da menina estranha por uma aposta. Ele podia muito bem ter dito aos amigos do litoral que voltaria e não demoraria nem uma semana pra conquistar a amiguinha perdida de Jersey City. Deve ter até dito que eu fiquei esperando, que ficava no pé dele e que sempre fui perdidamente apaixonada. O quanto eu estava farta de não saber a verdade. O quanto eu estava confusa com aquela história toda. Eu podia ser triste com Lola e seus companheiros, mas se tinha uma coisa que eu não era, era confusa. Eu tinha certeza do que queria e do meu caminho, mas agora, com Josh, parece que eu não tenho mais certeza de nada. Ele chegou pra mostrar que nada do que do que eu acreditei há tanto tempo era verdade. Eu não podia arriscar, eu não podia perder a segurança que tinha colocando medo nos riquinhos estúpidos com a minha cara amarrada. Eu tinha que dar a resposta certa.
         - Não, eu... Nós... A gente não tem nada. Naquela noite eu... Bebi demais! – Eu gaguejei. Ai, caramba. Gaguejei. Mas eu acho que ela não notou, ou não deu atenção, porque apenas relaxou os ombros e sorriu de canto.
         - Realmente, o que a bebida não faz, não é? – E com o mesmo sorriso, se retirou, andando para o fim do corredor. Bufei por uns segundos, agradecendo por ela ter ido embora e me deixado sozinha com meus pensamentos. Porém, quando me virei para ir à direção contrária, dei de cara com Alex, o famoso Stinky, bem atrás de mim. Aqueles olhos verdes me liam como ninguém. Na mesma hora pensei que ele soubesse de tudo. Da minha confusão, da minha indecisão, do meu passeio no parque com o Josh, do beijo... De tudo. Fiquei parada, encarando-o, sem conseguir dizer uma palavra.
         - Sei o que usou na sexta... – Ele começou, movendo apenas os lábios e me encarando friamente – E te perdoo por isso, mas... – Ele fez uma pausa. Logo em seguida, soltou um sorriso fraco, meio debochado – eu não gosto de você com esse tal... Josh? – E da mesma forma que chegou, foi embora, para a mesma direção que Lola havia me deixado.
         Segui andando, então. Não conseguia parar de pensar em tanta informação que tinha recebido, ainda mais pra uma segunda de manhã. Era minha aula de Biologia e com certeza encontraria Josh, era uma das aulas que tínhamos juntos. A primeira, na verdade. O que me fez lembrar o vexame que demos na primeira aula. Vexame, não. Ele mereceu aquilo e eu só falei a verdade, só que fomos assunto durante toda a semana (e pelo visto, continuaremos sendo por mais um tempo).
         Com passos curtos, eu fui caminhando devagar até o laboratório onde sempre era a aula desde que me comecei a estudar naquele prédio e encontrei a porta aberta. Algumas pessoas já estavam em sala e o professor estava sentado em sua mesa, de olho em alguns papéis. Quando cheguei, todos os que estavam presentes me encararam e sorriram de canto. Agora eu sabia o que pensavam e fiquei super sem graça. Não podia deixar que percebessem, afinal, eu ainda era temida... Ou devia ser. Quem nunca faz besteiras em dias de bebedeira? Era mais complicado para o pessoal daquela aula, pois eles tinham visto a briga com Josh na íntegra e a notícia da festa do Mcguire deve ter feito cair por terra a minha pose de “sou a garotinha ressentida”, eles com certeza pensariam assim. Mas não era verdade! Eu estava ressentida, eu odiava Josh. O que ocorreu na sexta foi completamente apagado de minha memória, o que significa que eu nem devia ter feito, na minha própria leitura.
O professor notou que eu fiquei um bom tempo parada e perguntou se eu não iria me sentar, se estava me sentindo bem. Não respondi, como nunca o fazia, e segui para o meu lugar de sempre, na última bancada, na última cadeira. Naquele lugar, com a cadeira vazia ao meu lado, eu só conseguia pensar em quando Josh chegaria. Eu precisava mesmo conversar com ele sobre o acontecido e dar um ponto final naquilo. Ao mesmo tempo, a dor de dar um ponto final com tantas coisas não explicadas me travava. Se eu acabasse com nossa amizade de vez, ali mesmo, eu estaria impondo algo, não seria natural. Era arriscado, porque eu poderia estar sendo culpada e bem egoísta. Foi aí que meu pensamento começou a divagar para o que eu poderia fazer para arrancar a verdade de Josh, ou de qualquer outra pessoa. Eu só não poderia viver assim, sempre na dúvida, sempre com medo de arriscar e pular entre o que eu queria fazer ou o que eu achava que deveria. Minha cabeça estava a mil.
A porta se fechou e Sr. Hickens começou a aula. Josh não apareceu e eu, definitivamente, não consegui entender nada, mais uma vez.

            Estranho. Muito estranho mesmo, mas não vi Josh pelos corredores da escola naquele dia. Será que estava doente? Ele me parecia bem ontem – e muito bem por sinal. Passei o intervalo todo olhando para os lados e tentando disfarçar para Lola não desconfiar que o procurava. Gordo e Bafo, assim como eu, não se lembravam de muita coisa, e estavam muito pior. Deviam ter tomado mais que um comprimido, porque ainda pareciam abatidos, mesmo depois de dois dias. Ou então seria consequência de qualquer coisa que tenham feito no final de semana, mas isso não seria uma coisa que eu perguntaria pra eles. O intervalo pareceu se arrastar e até entre as aulas, eu não o via passar correndo, ou simplesmente parado, conversando com outras pessoas. Não seria possível que depois do que aconteceu entre nós dois no dia anterior ele não viesse nem me cumprimentar, ou explicar as coisas, ou... Eu começava a desconfiar que eu estava me metendo numa furada. Preocupada demais com esse menino e ele agindo de jeito estranho. Beijando-me num dia e sumindo no outro. Ele podia muito bem ser como qualquer um desses meninos da Califórnia, usando as garotas como objetos, se achando os maiorais só porque eram riquinhos. Achando que poderiam ter quem quisessem.
         No fim da aula eu já estava sem paciência para nada. A ausência de Josh naquele dia em que eu tanto precisava conversar com ele, contar sobre o acontecido, justamente no dia em que nós éramos assunto pra toda a escola, me deixava morrendo de raiva... E com inveja, confesso. Eu poderia ter faltado, como ele, e não teria que passar por aquele tipo de humilhação. Todos sabendo da minha vida e eu a única que não estava a par, era como se eu não controlasse meus atos... Eu sei, não é fácil entender a minha cabeça e muito menos fingir que se é uma tremenda irresponsável, sendo que você tem repulsa em ser... Tentar se mostrar mais forte só pra conseguir lutar por um ideal e ainda mais quando se tem tantas coisas entrando nesse caminho, como, por exemplo, seu coração.
         Segui andando sozinha, como sempre, para casa, tentando tirar da cabeça que durante todas as 5 horas que passei naquela prisão, todo mundo não tirou os olhos de mim nem um segundo. Eu me sentia aquela menina indefesa de novo, a estranha que tinha depressão e que não conseguia fazer amigos. Eu começava a sentir aquela dor novamente e aquilo não era bom. E era pior ainda assumir que tudo o que meu corpo e minha mente pediam era ele. Que ele aparecesse para enfrentar aquilo tudo comigo, mas ele não surgiu. Estava próxima de casa, há apenas uma casa da residência dos Hutcherson quando ouvi passos correndo atrás de mim e uma mão parando em meu ombro, seguida por uma voz inconfundível.
         - Ann! – Josh acabara de me parar. Eu virei para trás e ele usava o uniforme do time de basquete da escola. Estava suado, os cabelos meio molhados e tinha um sorriso enorme no rosto.
         - Por onde você esteve? Por que não foi a escola? – Eu parei, virada para ele, já começando meu discurso inspirado pra mostrar o quanto ele estava sendo um irresponsável por ter matado aula.
         - Não! Eu estava na escola! – Ele riu e eu franzi as sobrancelhas. Como assim? Eu podia garantir, ele não estava. E mesmo que estivesse, ele cabulou aulas. Ele não assistiu à aula de Biologia. Comigo.
         - Como assim? Eu não te vi! – Eu não podia acreditar que já na segunda semana de aulas, ele já estivesse se metendo em encrencas. Estava melhor do que eu consegui fazer em quatro anos, mantendo a minha pose de durona.
         - Andou procurando por mim, é? – Ele se deu um passo em minha direção enquanto me encarava com um olhar sedutor. Eu ri, dando um passo pra trás e fingindo indiferença. Como ele poderia ser tão prepotente?
         - Cala a boca e me explica agora que história é essa? E qual é a desse uniforme ridículo? – Eu cruzei meus braços e esperei que ele me desse mais uma de suas desculpas.
         - O treinador liberou quem faria o teste para o time de basquete das aulas, hoje. Estava na quadra. – Ele falou, como se fosse a coisa mais fantástica do mundo, mas eu já estava começando a odiar a ideia. Basquete? Ele tentou mesmo entrar para o time? Quer o quê? Se enturmar com os populares e se tornar mais um idiota, metido a besta que assusta a todos com sua pose de bonzão só porque tá num time?
         - Pera, você tentou mesmo entrar pro time de basquete? – Eu perguntei, ainda sem acreditar... Depois de tudo o que conversamos.
         - E você nem vai acreditar – Ele me interrompeu, sem nem prestar atenção no que eu tinha dito, não se contendo de tanta felicidade – Eu passei! Tô no time! O treinador disse que eu sou um dos melhores desse ano!
         - Você tá no time? – Eu quase gritava, abrindo os braços, as mãos abertas. Eu não podia acreditar que eu já o tinha perdido, assim tão fácil. E eu pensando que ele tinha me ouvido durante todos esses dias.
         - Eu to! Não é o máximo? – Ele perguntou, ainda sorrindo, mostrando todos os dentes.
         - Não! Será que você... – Eu engasguei, confesso que estava exagerando, mas eu já estava com raiva por muitas outras coisas. Muitas mesmo. A minha cabeça estava uma bagunça e já não dava pra controlar as emoções – é estúpido ou o quê? É assim que você quer que fiquemos juntos? – Ele me encarava sem entender e eu tratei de retificar, quando percebi o que havia dito – Como amigos... É assim que quer que sejamos amigos? Eu te disse que isso tudo era manipulação... Era como eles te separavam, te dividiam, te rotulavam...
         - Ann, espera. Você não tá sendo muito radical? – Ele falou, mas eu nem dei tempo para que ele respirasse.
         - Não! Não! Não! Você quer ser um deles. Sente saudade, não é? Da sua época de popularidade em Los Angeles, não é verdade? – Eu sorria com sarcasmo. – Eu te disse: Eu não me misturo com esse tipo de gente e os novos amiguinhos que você vai fazer são exatamente assim. Estúpidos, fúteis, um bando de idiotas! –Ele apenas me olhava, parecia esperar a deixa certa para falar no meio do meu discurso de revolta. Nem eu mesma sabia se eu conseguiria parar de falar, eu tinha tanta coisa que queria tirar do meu peito, que eu poderia explodir em xingamentos a ele até o dia seguinte, só por causa daquele teste.
         - Eu não sou como eles! Não entende? – Ele falou, com pressa, no momento em que parei pra reorganizar meus pensamentos.
         - Diz que não é agora! Mas não vai demorar muito pra se tornar. Você já me abandonou uma vez, não é? Não vai ser difícil fazer de novo! – Eu virei as costas e saí andando, no ímpeto da revolta, e ele segurou meu braço, mas eu estava com tanta raiva que me soltei facilmente.
         - Ann, por favor...
         - Não! – Eu interrompi, com a respiração pesada. – Eu te esperei um tempo enorme hoje porque precisava conversar com você, mas você estava no seu grande teste com seus grandes amigos. E a partir de agora vai ser sempre assim...  – Pausei. Examinei-o de cima a baixo, percebendo seu uniforme. Meu estômago revirou. – Ei, Josh. Onde estão seus sapatos caros? – E mexendo a cabeça em negação a tudo aquilo eu segui os poucos passos que faltavam até a minha casa.

         Eu cheguei batendo os pés, bufando, soltando fogo pelas ventas, como se não houvesse amanhã. Bati a porta da frente e minha mãe estava na sala, com seu costumeiro uniforme de trabalho (um terninho cinza nada bonito) e juntou as sobrancelhas quando me viu entrar como um furacão.
         - Filha? Está tudo bem? – Ela perguntou e eu parei na porta da sala com um sorriso forçado no rosto, tentando transparecer tudo, menos meu o ódio que estava sentindo no momento. Não esperava que ela estivesse em casa naquela hora.
         - Tá, mamãe! – Eu sorria grande, com certeza deveria estar parecendo um monstrinho. – Tudo bem. – Eu ia me preparar para subir quando ela disse as últimas palavras que eu queria ouvir naquela hora.
         - Tem visto Josh na escola? – Ela tinha um sorriso tímido pra mim e eu fiquei séria na mesma hora. Não respondi de imediato, apenas a encarava. Ela parecia esperar mais do que ansiosa a minha resposta, e até parecia um pouco tensa.
         - Hm... Bem, na escola? Não muito. – Eu respondi, mas não esperei que ela dissesse mais coisas. Subi correndo as escadas e entrei no meu quarto, fechando a porta para conseguir pensar. Joguei a mochila em cima da cama e levei as mãos ao rosto, tentando relaxar e raciocinar de verdade, sobre tudo o que tava acontecendo nessas duas semanas, desde que Josh havia decidido voltar, sem aviso prévio.
         Ele sendo tão diferente de mim e ao mesmo tempo tão necessário. Toda a falta que ele me fez querendo ser compensada e freada pelo meu desejo incontrolável de ser uma reacionária, ir contra a sociedade e mostrar que eu não sigo regras. Ele sendo incrivelmente popular na Costa Oeste e de repente vindo com historinhas de que nunca me esqueceu, de que sempre pensou em mim, de que me mandava... Cartas. Lembrei então, da história das cartas e de mais um monte de detalhes que ainda não havia parado, nem por um segundo, pra tentar decifrar. Coisas que eu tinha a investigar. Ele estaria falando a verdade? E minha mãe, me avisando sobre a volta dele tão animadamente, mas só me perguntando sobre ele depois de uma semana. Meu atestado do psicólogo que nunca foi verdadeiro. Abri a porta do quarto e desci as escadas da mesma forma que subi, como uma bala. Minha mãe estava passando, indo em direção a cozinha e se assustou com a minha pressa.
         - Não vai trabalhar? – Perguntei, antes que ela dissesse alguma coisa.
         - Hoje fui liberada mais cedo. Está acontecendo um evento na empresa e eu decidi vir pra casa, pra adiantar alguns papéis – Ela sorria, mas como sempre fora, desde que eu comecei a frequentar o psicólogo, ela parecia ter medo de dirigir a palavra a mim. Como se escondesse tanta coisa.
         - Hm... – Eu disse, e pensando que eu não continuaria, ela seguiu o caminho que estava fazendo antes. Mas eu não parei. – Mãe, lembra-se do meu psicólogo?
         Ela parou subitamente, as costas tensas, mas não olhou pra mim.

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