Sinopse

Era uma amizade. Uma promessa. Eles ficariam juntos pra sempre, não importava o tempo que passasse. Ele foi embora, ela esperou. Mas os tempos mudam, as pessoas mudam. E as promessas? Ele resolveu voltar. Ela não é mais a mesma. E os dois, será que esse ainda existe?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Prólogo


         O dia não era tão estranho pra ser razão de mau humor. Era meu último dia de férias, e qualquer criança ou adolescente normal estaria prestes a um ataque de choro só de pensar que a partir dali, teria que voltar a acordar cedo e ser testado dia após dia dentro de um sistema falho e imposto para dominação. Nem todos, também. Eu posso dizer que qualquer criança ou adolescente normal, também teria uma pontinha de felicidade ao lembrar que também seria tempo de rever todos os antigos amigos, de fazer novas amizades e de se aventurar em mais um ano que seria glorioso. Pela perspectiva da minha dissertação, podem ver que eu não pertenço a esse grupo seleto. Annabeth Carlson, no alto de seus 17 anos de idade, não se encaixa no grupo de pessoas felizes, que são populares e veem o Ensino Médio como o império de seus sonhos. No fim das contas, nem eu mesma sabia quem eu era, realmente. A única coisa que eu sabia era que já fazia um bom tempo que estava sentada na varanda de casa, com um cigarro sempre a mão e já se havia ido meia garrafa de vodca que comprei com minhas economias.
         Não sou uma menina de muitos amigos, nota-se pela minha total solidão, sentada no assoalho velho. Mas eu até diria que a situação em que me encontro hoje, é de fato um exagero, um acontecimento isolado. Se fosse um mal estar comum eu já teria me encontrado com Gordo, Bafo, Stinky ou Lola, meus atuais companheiros – pois não ouso chamar tais criaturas de amigos – pra beber em algum lugar, jogar as cinzas do cigarro em algum balcão e vê-los abusar de drogas ilícitas, mas esse não era o caso. Desde que acordei a sensação de que algo estava me sufocando ficava presa em mim, sem razão aparente. Parecia que algo estava pra acontecer, algo nada bom, que, devagar, consumiria toda minha energia vital, e que pessoa não ficaria angustiada com essa situação.
         Eu vinha andando de um lado pro outro, lendo um livro, comendo, ouvindo música, mas nada tirava essa sensação de mim, e quando meus pais chegaram em casa, sabendo que ninguém mais estava para passar pela varanda novamente, eu resolvi sair. Era por volta das 8 PM e eu tinha começado devagar, mas como aquilo não saía de mim, resolvi pegar pesado. E agora já eram quase 11 PM.
         Nenhum pio na vizinhança, as árvores se moviam devagar, o vento parecia sussurrar coisas, contribuindo pra atmosfera macabra. Levei o cigarro a boca e dei uma tragada profunda, tentando espantar o frio que vinha com a proximidade da madrugada. O telefone de casa tocou, e eu nem ousei olhar pra trás. Mamãe estava na sala, assistindo a sua novela de sempre, ninguém ligaria pra minha casa numa hora daquelas. Ou em hora alguma. Ninguém ligava pra minha casa procurando por mim desde... Peguei a garrafa de vodca com força e virei um gole tão grande que senti minha cabeça girar e minha garganta queimar como brasa. Respirei fundo, e coloquei a cabeça entre as pernas. Faltava menos de um quarto da bebida. Cocei os olhos, tentando afastar o pensamento absurdo e a comum dor no peito que me surgia sempre que meu cérebro tentava voltar nesse assunto. Era passado, Ann. Não existe mais, nem nunca mais vai existir. Traguei mais um pouco. Já tinha ido quase um maço. Eu nunca gostei de fumar. Deixava-me fedida e não tinha um gosto tão bom, por isso preferia os mentolados. Eu só queria fazer charme. Mostrar que eu não precisava de ninguém, nem nunca precisaria. Bebi mais um gole grande da bebida e soltei um arroto. Um gato preto passou pelo canteiro da senhora Petterson, do outro lado da rua, e pareceu me olhar, acenar e seguir seu caminho. Sacudi a cabeça com força, devia já estar bêbada demais pra ver animais se comunicando comigo, mas isso não me abalou. Tomei mais um gole, e faltava tão pouco pra terminar. Mais um trago. Joguei o cigarro no chão, levantando e limpando minha calça jeans, enquanto soltava a fumaça. Peguei a garrafa e virei o que faltava, indo até o outro lado da rua. Sim, na casa da senhora Petterson, e deixando no lixo dela. Voltei rindo e mexendo nos cabelos, será que nunca achara estranho sempre encontrar garrafas de bebidas alcoólicas no meio da sua calçada? Sentia meus pés cambalearem enquanto fazia o caminho de volta e dei uma risada mais alta, achando graça de como meus pés estavam tortos, parecendo não saber fazer um caminho tão comum. Parei na porta da casa e respirei fundo, buscando passar pela minha mãe sem demonstrar sinal da minha embriaguez – eu sempre fui boa nisso. Andando devagar eu fiz o caminho até a sala, para subir para o meu quarto, quando fui parada pela voz da minha mãe, que nem sequer tirou os olhos da televisão.
         - Annabeth. – Ela disse, impassível. Eu parei de olhos fechados, achando que viria sermão. Mordi o lábio e segurei meu cabelo, virando-me pra ela, esperando por tudo.
         - Sim... Mamãe. – Respondi, devagar. Não sabia como estava a minha voz, qualquer coisa poderia denunciar.
         - Recebi um telefone essa tarde, e tenho novidades pra você. – Ela finalmente me olhou e temi que me ver a fizesse perceber que estava alterada, mas seu olhar não esboçou nada, eu devia estar normal.
         - E o que é? – Não estava com paciência pra papinhos, mas não poderia ser grossa. Geraria uma discussão e no estado em que me encontrava, não ia sair coisa boa. Apoiei-me no corrimão da escada.
         - Alguém vai voltar a morar aqui. Amanhã mesmo, eles estão chegando. Voltarão pra antiga casa. – Eu devia estar fazendo cara de quem não entendia uma só palavra, e não estava entendendo mesmo. Devia ser o álcool. Ela riu e continuou – Os Hutcherson, querida. O Josh vai voltar! – Seus olhos brilhavam como se ela tivesse descoberto o fogo no início da humanidade. Minha cabeça girou mais forte, meu estômago parecia embrulhar. Segurei com mais força no corrimão, com certeza iria cair. Não esbocei reação nenhuma.
         - Poxa, vejamos então... Que notícia... Surpreendente. – Eu disse, pausadamente, escolhendo as palavras e sem saber o que nenhuma significava ao certo. As palavras que saíram da minha mãe eram as únicas que ecoavam na minha cabeça. – Agora, eu... Preciso subir. – Eu disse, sorrindo fraco, e sem poupar passos até o fim da escada. Chegando ao meu quarto, abri a porta com força, não vi nada que tinha no caminho. Segui para o meu banheiro particular, empurrando a porta e enfiando a cabeça dentro do vaso sanitário. Era tudo o que eu tinha bebido. Era tudo saindo de mim. De novo. 

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