Eu me sentia uma idiota. Parada no
terraço, era horário de almoço. Quando eu levantei já arrumada e disse para a
minha mãe que precisava ir à escola, mas não para assistir aulas, foram duas
reações: A primeira foi de susto, ao me ver com um vestido florido, onde um tom
de rosa fazia parte da cor. Eu usava óculos escuros, um sapato preto de salto e
a saia era rodada, realmente, eu parecia uma menina. A segunda foi de
indignação, dizendo que por ordens médicas eu deveria estar repousando. Não foi
preciso uma grande briga, eu apenas a lembrei o que havia ocorrido na última
vez que seguira ordens médicas tão ao pé da letra e insisti que estava bem, que
só precisava dar um recado alguém e que esse recado não poderia esperar. Depois
de muito respirar e contar até 10, ela deixou que eu saísse e eu fui correndo até
o prédio.
Como
tinha planejado, eu mostrei o atestado a coordenadora e apenas pedi que fosse
entregue o bilhete a Josh Hutcherson, que era urgente e confidencial. Assim que
saí da sala, porém, corri pelos corredores vazios, me esgueirando para que ninguém
me visse e subi até o terraço, um local onde quase ninguém frequentava por ser
de difícil acesso. Eu descobri o caminho pouco antes de Josh ir embora.
Descobrimos juntos na verdade e aquele local se tornou a parte mais importante
da escola para mim depois que Josh fora embora, pois comecei a precisar passar
mais tempo sozinha, pensando comigo mesma. Eu apenas esperava que ele não
tivesse esquecido como chegar, mas eu duvidava que sim.
Agora
eu estava ali, num local tão comum pra mim, esperando por um momento tão
importante. Eu estava muito nervosa, nem sabia onde colocar as minhas mãos, ou
o que fazer. Eu havia chegado há 30 minutos, será que ele não viria? Ou será
que leram meu bilhete e jogaram no lixo? Não. Se tivessem lido já teriam me
tirado dali. Mas e se jogaram mesmo no lixo, sem entregar? Ou esqueceram?
Incertezas, não saber o que estava acontecendo lá embaixo me deixava agoniada.
Eu estava prestes a desistir quando ouvi passos na escada. Virei rápido para o
lado de onde o som surgira e vi Josh sorrindo, vindo na minha direção, de
braços abertos.
-
Ann! – Ele correu e me pegou num abraço. Seus braços envolveram a minha
cintura, me apertando contra seu corpo e ele me levantou do chão, me girando no
ar. Eu só conseguia sorrir, era bom sentir aquele abraço, aquele perfume.
-
Josh... – Eu sussurrei, com o rosto preso em seu pescoço, mordi meus lábios
antes dele me colocar de volta ao chão.
-
Não sabe o quanto eu estava preocupado. Quando eu ouvi a ambulância parada na
frente da sua casa, eu não sabia o que fazer – Ele falava tudo tão rápido que
eu mal conseguia assimilar, fiquei olhando para seu rosto, cada detalhe,
reparando tudo que eu tinha me recusado a ver até aquele momento. – Corri lá
pra fora e quando vi que era você eu fiquei louco. Minha mãe me levou ao
hospital logo depois pra te ver, mas você tava dormindo e...
-
Josh! – Eu falei, colocando um dedo sobre sua boca, para que ele parasse de
falar. – Calma... Posso falar um momento? – Eu sorria. Ele me acompanhou.
-
Desculpa... Claro que... – Ele parou quando se afastou e viu como eu estava
vestida. Suas sobrancelhas estavam juntas, sem acreditar – Onde está Mortícia
Adams?
-
Gostou? – Eu ri alto e estiquei a saia do vestido, dando uma voltinha – Do meu
novo look?
-
Você está... – Ele falou, me olhando de cima abaixo e eu pude perceber um
suspiro – Perfeita!
Eu
corei imediatamente, e por um momento fiquei com medo de esquecer tudo o que eu
estava preparada para falar. Eu estava nervosa há muito tempo e com ele tão
perto, comecei a sentir que não conseguiria dizer tudo o que havia planejado.
Respirei fundo e comecei a falar logo, antes que eu me arrependesse.
-
Josh, eu preciso te contar uma coisa. – Eu falei, mexendo nas mãos, hábito
comum na maioria das pessoas quando estão nervosas e eu estava. Quase suava.
-
Tem a ver com a razão de você estar usando esse vestidinho? – Ele disse, e deu
um passo na minha direção, com um sorriso no rosto. Eu dei um passo pra trás,
não por não querer que ele se aproximasse, mas eu precisava da distância pra
conseguir me concentrar no que eu diria.
-
Tem... – Eu sorri e passei a mão pelo vestido, olhando-o. Quando voltei o meu
olhar pra Josh, ele encarava minhas pernas, sem pudor e eu ri alto por ter
notado. Quando ele viu, percebi que corou e voltou a olhar pra mim, sorrindo.
-
Diga, então. – Ele falou, cruzando os braços.
-
Josh... Ontem eu passei mal e não foi por nada, não foi só um enjôo. A minha
pressão não baixou, simplesmente – ele me olhava com atenção, parecia ouvir e
assimilar cada palavra que eu dizia, esperava que sim, era bom que as coisas
ficassem bem esclarecidas. Repetir podia ser complicado. – Eu e minha mãe
discutimos.
-
Nossa, mas o que houve? – Ele esticou os braços, tentando me pegar num abraço
de consolo. Eu sorri e peguei em suas mãos.
-
Eu descobri que eu fui uma idiota esse tempo todo. – Eu apertava as mãos dele
com força – e você devia me odiar pra sempre!
Ele
deu um passo à frente, com um sorriso tão simples que me fez suspirar:
-
Eu nunca te odiaria...
-
Eu sei – eu respondi, puxando-o pra mais perto, deixando-nos a poucos
centímetros um do outro – e você é um anjo por isso. Mas você devia mesmo me
odiar... Porque foi minha mãe que armou
pra que não nos falássemos mais.
-
O quê? – Ele perguntou e eu expliquei detalhe por detalhe. Dizendo das cartas
que ela escondia, dos presentes que ela não entregava... De tudo.
-
Teoricamente eu que te deixei. Era você que deveria estar vestindo preto há
tantos anos e odiando o mundo – Eu falei séria, mas ele sorriu, o que me fez
relaxar um pouco.
-
Não posso acreditar que ela fez isso... – Ele balançava a cabeça em negativa e
tinha a expressão confusa demais. Era difícil acreditar, eu sabia, mas eu tinha
cartas e provas. Ela havia confessado.
-
Ela diz que foi pro meu bem – Defendi – Ela não sabia mesmo o que estava
fazendo, ela sempre foi assim... É o maior defeito dela... – Eu suspirei – Esquecer
que o meu maior remédio é ela. E só ela... Me amando. – Não agüentei e segui
para um pequeno canteiro, sentando próximo às violetas que ali estavam
plantadas. Ele veio até mim e sentou ao meu lado, segurando uma de minhas mãos.
– Mas já que estamos falando de amor...
Ele
afastou um pouco o rosto do meu, com cara de quem desconfiava de algo. Eu sorri
de canto e olhei para o chão, batendo meus saltos no chão. Pensei que ele fosse
comentar, mas Josh apenas ficou me olhando. Decidi continuar.
-
Eu só queria pedir desculpas... – Eu o olhei nos olhos, começando meu discurso
– Queria dizer que durante todos esses anos eu precisei de você e eu senti a
sua falta mais do que tudo nessa vida. Eu nunca menti tanto, ainda mais pra mim
mesma, quando me convenci de que você não tinha efeito nenhum sobre mim, a
verdade é que você é tudo – Eu apertei mais a minha mão na dele e aproximei
nossos rostos. – E que depois de descobrir toda a verdade eu estou muito
arrependida por ter sido tão cabeça dura esse tempo todo. – Eu abaixei meus
olhos e o senti seguir meus movimentos com a própria cabeça. – E que eu nunca
contei, mas não dá mais para esperar... – Respirei fundo, o olhando nos olhos
depois de uma pequena pausa. – Eu quero ser sua amiga, eu quero estar com você
e eu não me importo se você é do time da escola ou não, eu só quero você, do
jeitinho que você é e sempre foi. Eu só quero que você nunca mude, por favor! –
Nossos olhares juntos, eu não conseguia piscar. Já estava implorando com as
palavras para que ele não recusasse o pedido mais profundo da minha alma. Eu
sabia que tinha sido uma grossa, tinha provado que minha mãe era uma louca,
além dos altos e baixo que toda a nossa história já tinha por si mesma.
Qualquer pessoa em sã consciência precisaria de um tempo pra pensar e se
afastaria. Mas aquela não era qualquer pessoa. Na minha frente estava Josh, o
meu melhor amigo de todo o mundo.
-
Ann, você... – Ele tentou falar, mas eu o interrompi.
-
Por favor, não diz nada. Eu não terminei. – Eu falei, soltando nossas mãos e
pedindo com gestos para que ele parasse. Ele obedeceu.
-
Claro, certo... Diga o que falta. – Ele pediu, paciente. Eu estava receosa, mas
precisava fazê-lo. Cheguei meu corpo, colando ao dele e levei as minhas duas
mãos ao seu rosto. Com calma, porém numa velocidade que não dava a ele a opção
de negar eu juntei nossos lábios. O beijo era lento, e minhas mãos estavam
paradas em seu rosto. Aos poucos senti as mãos dele por cima das minhas e
começou a acariciá-las. Nosso beijo foi ficando mais intenso, porém não mais
rápido. Parecia que o mundo se movia da mesma forma. Ele então tirou as mãos
das minhas e passou para as minhas cinturas, me puxando pra perto de si e me
fez parar o beijo, fazendo com que eu me sentasse em seu colo. Ficamos um tempo
nos olhando e trocando sorrisos bestas. Bem, ele tinha os olhos em mim e
parecia viajar e eu não devia estar diferente. Levei minha mão aos seus cabelos
e comecei a fazer carinho, devagar.
-
Se isso for um sonho – Ele disse, enquanto sentia seu nariz passar pelo meu
pescoço rapidamente, afastando-se logo em seguida – Por favor, não me acorde.
Eu
sorri, antes de perguntar:
-
Isso é um sim a esquecer isso tudo e, por favor, me fazer feliz? – Puxei
levemente seu cabelo, para que seu rosto virasse para mim. Ele fez uma cara de
quem fingia dor e sorriu pra mim.
-
E você ainda tem dúvidas? – Ele apertou minha cintura, fazendo com que eu
chegasse meu rosto mais perto do dele. Em seguida segurou o mesmo, com carinho.
– Agora vem pra cá! – E cobrindo meus lábios com os dele novamente, me fez
fechar os olhos.
Já
eram 10 PM e meus pais estavam na sala assistindo TV, fora a hora que
combinamos pela manhã. Depois que nos beijamos mais uma vez no terraço, eu
disse que precisava ir para casa e que descobririam que ele tinha saído se ele
se atrasasse para a aula, então marcamos de nos ver por esse horário, no
telhado do meu quarto – o pequeno espaço que eu tinha na sacada da minha janela.
Depois do almoço acabado e algum tempo para garantir segurança, eu desci e me esgueirei
novamente até a saída. O dia passou devagar depois daquilo, eu só esperava que
as horas voassem e chegasse logo o horário marcado, e naquele momento – quando
meu celular despertava marcando os benditos números – eu estava mexendo no
cabelo compulsivamente, para que meu rabo de cavalo ficasse aceitável. Foi
quando ouvi a famosa pedra bater na janela. Era ele.
Corri
e abri, pulando para fora. Sussurrei com cuidado, para que ele ouvisse, porém
meus pais não.
-
Usa a grade! – Como eu havia feito no domingo. E lá vinha ele, subindo,
foragido, pelo arranjo de plantas da minha casa direto para o meu quarto.
Quando chegou perto, eu lhe dei uma mãozinha e ele sentou ao lado de onde eu
estava. Fazia tempo que não sentávamos os dois juntos ali, e éramos muito
menores. Por um momento fiquei com medo que aquilo caísse, mas logo tirei a
ideia da cabeça. Minha mãe tinha subido mil vezes para tirá-la de lá depois de
uma briga, ou coisas do tipo... Talvez ele agüentasse mais do que ela
imaginava.
-
Sentiu minha falta? – Josh sorriu, convencido, assim que eu me acomodei ao seu
lado. Eu o olhei de canto, com desdém.
-
E desde quando eu sinto falta de algo? – Peguei a pedrinha que ele havia jogado
e que pousara ali, jogando do outro lado, próxima a janela dele.
-
É, eu notei isso... – Josh respondeu, com sarcasmo. Eu apenas sorri. O clima
não estava tão frio, mas meu short deixando a minha perna descoberta faziam com
que eu sentisse e me arrepiasse com cada brisa. – Vem cá... – E sem nem me
perguntar passou os braços pelos meus ombros, me puxando mais pra perto. Uma de
suas mãos acariciava meu braço e a outra estava em minha perna, espantando o
frio. Minha cabeça recostava em seu peito e ficamos uns momentos em silêncio.
-
Conte-me sobre Los Angeles. – Eu quebrei, fazendo o pedido.
-
Mas eu já te contei basicamente tudo... – Ele disse. Não olhava pra mim – Era
do time de basquete. Eu tinha uns amigos muito legais. Viajei bastante com o
time, ficamos em terceiro nas nacionais...
-
Mas eu quero que me conte tudo! – Eu segurei seu rosto, fazendo-o olhar pra
mim, com as mãos no seu queixo. Ele me encarou, sério – Me fala das suas
experiências, casos engraçados... Seus romances. – Eu desviei o olhar ao dizer
as últimas palavras. Senti seu corpo relaxar e ouvi um riso abafado vindo dele.
-
Quer saber das meninas com que saí? – Ele perguntou, sorrindo pra mim como se
eu fosse uma criança que foi pega fazendo algo errado e muito engraçado.
-
Ah, não me olha assim. – Eu me desvencilhei de seus braços e coloquei minhas
pernas junto ao corpo e pousei meu queixo sobre os joelhos – eu quero saber
suas intimidades, só isso... Ficamos distante um bom tempo.
Ele
continuava a me olhar daquele jeito, mas não por muito tempo. Logo ele virou
seu olhar para a janela de sua própria casa e começou a falar.
-
Eu só tive uma namorada séria – Ele me olhou... – se é isso que você quer saber
– ... E voltou a olhar para frente – O nome dera era Loreen e ficamos juntos
por dois anos.
-
Dois anos? – Eu me assustei. Era muito tempo. Ele devia amar mesmo a menina.
Aquele pensamento fez meu estômago se contrair, parecia que algo tinha me
atingido em cheio, bem na barriga, mas me mantive quieta. – Por que vocês
terminaram?
-
Eu voltei pra cá... – Ele me olhou e sorriu de canto, como quem não ligava. Eu
mordi meu lábio, olhando para o telhado e ele percebeu meu desconforto. Parecia
ler minha mente melhor do que eu mesma. – Não foi importante...
Eu
levantei meu olhar e o encarei. Ele continuou:
-
A gente tava junto porque eu era o capitão do time... Ela era a capitã das cheers... – Ele levou uma das mãos ao
meu rosto, acariciando levemente. – Ela era uma ótima garota, mas era
conveniência.
-
Sapatos caros... – Eu ri, olhando para o chão.
-
Isso mesmo... E sabe que eu não sou assim. – Ele puxou meu rosto e me deu um
selinho demorado, que me fez sorrir.
-
Mentira – Eu passei meus braços por cima de seus ombros – Você é exatamente
assim...
-
Cala a boca! – Ele brincou e sem mais me beijou. Estávamos os dois sentados, um
de frente para o outro e a posição era até um tanto desconfortável, mas não
havia problema. Não se eu estivesse em seus braços. Os lábios dele eram sempre
muito gentis e brincavam com os meus como se tivessem nascido para fazer isso.
Minhas mãos passeavam pelo cabelo dele, mexendo e acariciando, sentindo seus
fios lisos. Mais um pouco ele me puxou para mais perto e eu coloquei uma perna
de cada lado do seu corpo, sentando em seu colo. O beijo foi ficando mais
intenso, meu corpo colado no dele podia sentir nossas respirações aumentarem o
ritmo. Segurei firme em seu cabelo e senti as mãos dele subirem por dentro da
minha blusa, levantando a mesma. Desci uma das mãos de seu cabelo e levei até
sua blusa, puxando-a e fazendo com que seu corpo ficasse ao máximo em contato
com o meu. Eu o queria, queria mais dele. A mão livre de Josh desceu para a
minha bunda e ele a empurrou, fazendo com que meu corpo passasse pela
intimidade dele com força. Gemi baixo entre o beijo, voltando com as mãos para
a nuca dele, puxando seu rosto para mim. Quase nos engolíamos, eu sentia o
calor subir pelo meu corpo rapidamente. Comecei a me mover involuntariamente e
eu senti algo crescer dentro de sua calça. Josh puxou meu lábio inferior, me
fazendo tremer quando tocou meu quadril de novo, como um pedido para que eu
continuasse o movimento. Mais alguns segundos ele me deitou de supetão, ficando
por cima. Parando os beijos, descendo os lábios pelo meu pescoço, ele tinha as
pernas entre as minhas. Sentia seu corpo passar pelo meu de maneira sutil, ele
estava muito excitado e eu também. As mãos dele começaram a subir minha camisa,
e eu sentia o vento bater na minha barriga nua, enquanto suas mãos também
geladas passavam por ela. Ele iria tirá-la, ele queria, eu sabia.
-
Josh, assim, não... – Eu falava com dificuldade enquanto ele continuava a
beijar meu colo.
-
Sim, sim... – Ele dizia, entretido em apertar minha cintura e voltar os beijos
pelo meu pescoço.
-
Não! – Eu o afastei – Estamos no meu telhado, meus pais estão acordados. – Eu
sorri de canto enquanto passava a mão pelo seu rosto – É perigoso...
-
Ok. – Ele suspirou, também sorrindo, mas desviando o rosto, um tanto
decepcionado.
-
Sábado... – Eu disse, fazendo com que seu olhar voltasse pra mim – Meus pais
viajarão. Terei a casa toda pra mim no final de semana. – Ele me olhou como
quem tinha entendido – Vem assistir a alguns filmes comigo?
Um
sorriso se formou nos lábios dele e eu sorri junto. Não precisamos dizer mais
nada, ele apenas encostou seus lábios nos meus e voltou a me fazer perder os
sentidos.
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